sexta-feira, 30 de maio de 2014

Débora Fonseca: Jônatas, o príncipe da Graça!

Jônatas, o príncipe da Graça!

`Despojou-se Jônatas da capa que vestia e a deu a Davi, como também a armadura, inclusive a espada, o arco e o cinto.´ 1 Samuel 18.1 a 5

O que queremos numa amizade?

Sermos supridos de algo que faltou na relação familiar? Um abraço negado, um beijo quentinho não selado, um elogio nunca elaborado, um diálogo e atenção não despendidos, proteção, segurança, intimidade...
Será lícito transferir para amigos e amigas a expectativa de sermos saciados por algo que não aconteceu em nossa família?
Davi tinha 07 irmãos de sangue, porém, ao que se percebe nas Escrituras, nenhum de alma. (1 Samuel 17.13, 28 a 30)
Deus, em sua providência, capacitou Davi com força necessária para, sozinho, derrotar um leão, um urso e um gigante, porém, quando inserido nos domínios de Saul, deu-lhe um irmão de alma: Jônatas! (1 Samuel 18. 1 a 2)
Deus conhece e supre nossas necessidades!
A jornada a ser percorrida até que Saul fosse destronado apresentava-se longa e exaustiva, tanto no aspecto emocional e espiritual, com sucessivos altos e baixos, diferente das enfrentadas com os animais selvagens e o gigante filisteu.
Jornadas longas requerem apoios longos... pacientes, sistemáticos e principalmente, incondicionais. A opressão pode ensandecer a qualquer um. (Ecl. 7.7)
Deus na sua bondade, deu a Davi o apoio necessário para esta batalha: o amor e a amizade do príncipe Jônatas!

Para cada batalha um recurso diferente!

A bíblia diz que Jônatas amou Davi como à sua própria alma e este amor o levou a despojar-se de sua armadura (sua proteção) e também de suas armas de ataque: a espada e o arco.
Após o despojamento, Jônatas deu a Davi tais artefatos entregando também o cinto. O cinto parecia ter várias utilidades para o guerreiro, entre elas, manter fixa a armadura e ser o local em que a espada ficava segura.
Perceba que Jônatas não apenas se despojou dos artefatos de proteção e de ataque, mas também os deu a Davi e com eles igualmente o cinto, demonstrando que se tornaram desnecessários diante da escolha de amar, de tornar-se vulnerável, desarmado, sem máscaras.
Jônatas se aliança com Davi. E esta aliança é celebrada e renovada periodicamente no Senhor. (1 Sm. 20.23; 20.42; 23.15-18)

Alianças espirituais são diferentes das alianças carnais!

Certamente por ser fundada em Deus, e não neles mesmos, não há o medo da perda, a insegurança afetiva, a neurótica cobrança por atitudes e declarações que afirmem a todo tempo que a relação é exclusivista.
Quando estamos com medo, é comum nos armarmos, usarmos máscaras, armaduras, atacarmos para nos defender de circunstâncias imaginárias.

Delírios de uma alma esfaimada...

Jônatas propõe para si, uma caminhada diferente com seu amigo. Embora especial, a amizade e o amor destes homens não apresentam contornos românticos, platônicos, ou sensuais. Jônatas se despe de sua armadura e se dá a conhecer, mas não no plano erótico.
Davi e Jônatas não são namorados, não estão apaixonados um pelo outro, não estão tendo um caso. O comprometimento firmado entre eles não se dá neste nível.
Até haveriam elementos para isto, pois Davi parece receber de Jônatas um olhar diferenciado do que recebera de sua própria família. (1 Samuel 16. 1-13).

Olhar de quem ama no Senhor, é interessado e até compenetrado, porém, puro.

Davi foi olhado, notado e extremamente considerado por Jônatas, porém, entre ambos não há a excitação do flerte hipnótico ou da paquera cifrada.
Não há o ardil da manipulação, o sufocamento da posse, ou o transe do encantamento. Davi não é de Jônatas. Nem Jônatas é de Davi. A atmosfera da sedução não se encontra presente nas entrelinhas de seus diálogos e olhares. A cumplicidade do ilícito não se faz presente.
Estes homens não se aliançam como objeto de desejo um do outro. Não ardem em ciúmes, não se inflamam buscando o próprio interesse egocentricamente. A admiração mútua não se desvirtua em inveja e débeis tentativas de introjeção do que é do outro.

A proposta de Jônatas e Davi nesta relação é outra!

É uma amizade despojada, embora, prudente. (1 Sm. 18.05)
Uma amizade que respeita a identidade alheia e ainda estimula o seu crescimento (1 Sm. 23.16 a 18). Que se importa e faz o necessário (1 Sm. 19.1 a 7). Que chora junto. (1 Sm. 20. 41).
Somente quem tem consciência da própria identidade em Cristo, e, amor próprio dá conta de tão grande despojamento!
Para Richard Dawkins a atitude de Jônatas por Davi seria inconcebível e não pragmática, pois o altruísmo puro e simples não existe para o autor. Estaríamos condenados a viver em ciclos, buscando suprir necessidades ou desejos através de nossos relacionamentos. Mesmo quando sabemos que esta não é a melhor escolha a ser feita, nos sujeitamos, somos permissivos, manipulamos ou nos subjugamos a circunstâncias incomuns e até humilhantes para desfrutarmos de um benefício fugaz, uma inebriante sensação de bem estar.
Em contrapartida, para Jesus, o amor abnegado é possível e eficaz, sendo inclusive um mandamento! (Lucas 10.27) E diz a palavra que os mandamentos de Deus não são penosos... (1 João 5.3)
Como porém, não ser penoso escolher não por em prática um desejo por alguém em razão da sua ilicitude?
Penso que assim como todas as situações da vida cristã, somente a partir da Graça.
A Graça nos faz amar além da carne! A Graça nos faz priorizar a parceria, a lealdade, a confiança e o respeito mútuo em uma relação, no lugar da sedução e da sensualidade inflamada. A Graça nos faz querer Deus entre eu e meu amigo(a). A Graça nos liberta das cadeias cíclicas de nossos vorazes, antigos e crônicos apetites. A Graça nos leva a ambicionar algo maior e melhor do que nós mesmos.
Permita que o jugo da dependência afetiva ou da luxúria se instalem numa amizade e gradativamente os demais elementos, (parceria, lealdade, confiança, respeito e outros), tão legitimamente prazerosos, se perderão como areia entre os dedos das mãos.

Caminhos opostos, estradas antagônicas!

Davi aprendeu com o príncipe Jônatas a possibilidade e o valor do amor altruísta (Graça) e quando teve oportunidade demonstrou gratidão retribuindo na pessoa de Mefibosete, seu filho. (2 Samuel 9)
Diante destes exemplos devemos interrogar não o que queremos em uma amizade mas... o que estamos dispostos a oferecer?

Qual a proposta para nossas relações?

a) Saciar nossas expectativas infantis ou oferecermos amor gracioso?
"Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino." (1 Cor. 13.11)
b) Adotar a autocrítica e a maturidade como posturas diárias para a nossa vida, visando atingir o alvo de uma amizade a três?
"... eis que o Senhor está entre mim e ti, para sempre."
(1 Sm. 20. 23)
Quando Deus está no centro da amizade, nossa busca é que nossos atos sejam motivados e focados nEle e em sua vontade e não em nós e em nossa vontade, o que muda completamente a perspectiva da relação.
Que Deus nos abençoe, dando-nos  poder, graça e misericórdia para caminharmos com triunfo em nossos relacionamentos. Alguns amigos, poderão confundir e buscar o eros em nós. Nós, poderemos confundir e buscar o eros em nossos amigos. Nestes momentos, lembre-se: você sempre poderá contar com a Graça. Acredite, Ela faz diferença!


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[1] O gene egoísta, Ed. Cia das Letras....`o indivíduo é como uma máquina egoísta, programada para fazer o que for melhor para seus genes como um todo...por mais que desejemos acreditar no contrário, o amor universal e o bem-estar da espécie como um todo são conceitos que simplesmente não fazem sentido do ponto de vista evolutivo.´
[2] Autocrítica é o processo de análise crítica de um indivíduo (ou, coletivamente, de uma sociedade ou instituição) sobre seus próprios atos, considerando principalmente os erros que eventualmente tenha cometido e suas perspectivas de correção e aprimoramento.


Débora Fonseca
www.luznanoite.com.br
Coordenadora do Ministério Luz na Noite desde 2001

Débora Fonseca: Perdão, aceitação e Limites.

Perdão, aceitação e Limites.O cordão de três dobras da restauração!



Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade. (Ec.4.12)
Coordenando um ministério de apoio aos que praticam a homossexualidade, já há 12 anos, aproximadamente, percebo que, os obstáculos à vivência de uma sexualidade, tal como projeto de Deus, possuem, invariavelmente, um pano de fundo marcado por intenso sofrimento.
Sofrimento por conta de uma família que gera mas não ama, não cuida, não protege. Em muitos momentos, ela própria é a causadora das violências, dos maus tratos, das negligências e de diversos tipos de abusos contra o indivíduo que ingressa no mundo carente de amparo, proteção, referência e identidade.
Entendo que, para cada sujeito que é concebido, é dado por Deus a potencialidade de ser - humano. Esta potencialidade se expressa nas características transmitidas, entre elas, a sexualidade. É preciso porém, muito mais do que anatomia e fisiologia para se definir este traço da identidade, a sexualidade.
É preciso que as influências do meio declarem, afirmem e validem através de ações positivas e afetivas o ser que se constrói.
Quando isto não acontece, o sofrimento penetra no espaço vazio gerando confusões de toda ordem. Há momentos que o agente de tal sofrimento se dá por ingerência externa à família. Ainda assim, se o lar é espaço de refúgio, consolo e comunicação, tragédias podem ser melhores elaboradas. Tal não acontece naqueles lares em que o silêncio e a rigidez não permitem a sangria do coração dilacerado.
A questão que se põe agora é: como lidar com o sofrimento instalado?
Como, o ser, potencialmente destruído, pode reagir à vida que lhe ofendeu, insultou, esbofeteou, dilacerou, violentou, roubou sua inocência em sucessivas etapas do desenvolvimento e do crescimento físico, emocional, moral e espiritual?
Penso que,
A primeira reação é o perdão.
Perdão não é algo simples. Também não considero que seja algo humano, mas divino. Somente Deus pode nos capacitar a liberar da culpa, do julgamento e da condenação aqueles que nos feriram.
O perdão é também, uma perda grande. Precisamos perder para perdoar. Precisamos perder muito. Perder nosso orgulho, nosso desejo por vingança ou simplesmente por justiça. Perder nosso medo de sermos feridos novamente, nossa amargura, nosso papel passivo da vítima frente ao mundo. Precisamos nos esvaziar de todos estes empecilhos e entregá-los com nossos algozes aos pés da cruz.
A segunda reação é a aceitação.
Fomos tão insultados, tão ofendidos, tão magoados, tão rejeitados, que, possivelmente agora seja este o tratamento que damos a nós mesmos. Aprendemos a amar e aprendemos também a rejeitar... pasmem, a nós mesmos!
No entanto, Cristo nos desafia ao amor próprio, à valorização de quem somos em todos os aspectos e atributos físicos, intelectuais, e pessoais. `Ama ao próximo como a ti mesmo´ já diz o mandamento. Não ambicione ser outra pessoa, seja ela real ou virtual. Seja você mesmo! Faça as pazes consigo. 
A terceira reação está na colocação de limites.
Limites que demonstrem e validem quem somos. Não somos o insulto, o perjúrio. Somos quem Deus criou para sermos!
E se continuamos permitindo, de algum modo, ataques à nossa personalidade, seja pelas vozes que ainda ecoam em nossa mente, seja pela ação de antigos ou novos opressores, precisamos de coragem para apresentarmos e validarmos quem de fato somos diante deles.
Jesus nos convoca a respondermos sim sim, mas também não, não.
- NÃO! Não sou esta ofensa! E não aceito nem concordo que me trate desse modo!
Creia, você não é mais a criança indefesa. Há coragem, força e maturidade dentro de si, para dizer o não e bancá-lo. Creia em Deus, e na autonomia que Ele te dotou para conhecer-se, demarcar e manter limites saudáveis. Lembre-se porém, que nem todos fazem parte da turba dos opressores. Não diga não para todos!
Concluindo,
Parafraseando Eclesiastes 4.12, cada uma destas reações representa uma dobra do cordão. O cordão é uma corda fina. Algo que pode rebentar com facilidade. Reagir ao sofrimento com o perdão será divino, mas é necessário avançar aceitando-se. Reagir ao sofrimento com o perdão e a aceitação será excelente, mas é preciso também estabelecer limites saudáveis nos relacionamentos.
Com estas três dobras operando, quase que simultaneamente, o rompimento do cordão, ou seja, de sua caminhada rumo à restauração, se dificultará e oscilará cada vez menos.
A restauração da identidade e da sexualidade, são processos muitas vezes longos e espinhosos. Para que haja resistência e esperança ao longo da jornada é preciso cultivar, com constância, a arte de perdoar, de aceitar-se e de estabelecer saudáveis limites nos relacionamentos.
Que o Senhor te abençoe e te capacite a cuidar do seu cordão!


Débora Fonseca
www.luznanoite.com.br
Coordenadora do Ministério Luz na Noite desde 2001