sexta-feira, 30 de maio de 2014

Débora Fonseca: Perdão, aceitação e Limites.

Perdão, aceitação e Limites.O cordão de três dobras da restauração!



Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade. (Ec.4.12)
Coordenando um ministério de apoio aos que praticam a homossexualidade, já há 12 anos, aproximadamente, percebo que, os obstáculos à vivência de uma sexualidade, tal como projeto de Deus, possuem, invariavelmente, um pano de fundo marcado por intenso sofrimento.
Sofrimento por conta de uma família que gera mas não ama, não cuida, não protege. Em muitos momentos, ela própria é a causadora das violências, dos maus tratos, das negligências e de diversos tipos de abusos contra o indivíduo que ingressa no mundo carente de amparo, proteção, referência e identidade.
Entendo que, para cada sujeito que é concebido, é dado por Deus a potencialidade de ser - humano. Esta potencialidade se expressa nas características transmitidas, entre elas, a sexualidade. É preciso porém, muito mais do que anatomia e fisiologia para se definir este traço da identidade, a sexualidade.
É preciso que as influências do meio declarem, afirmem e validem através de ações positivas e afetivas o ser que se constrói.
Quando isto não acontece, o sofrimento penetra no espaço vazio gerando confusões de toda ordem. Há momentos que o agente de tal sofrimento se dá por ingerência externa à família. Ainda assim, se o lar é espaço de refúgio, consolo e comunicação, tragédias podem ser melhores elaboradas. Tal não acontece naqueles lares em que o silêncio e a rigidez não permitem a sangria do coração dilacerado.
A questão que se põe agora é: como lidar com o sofrimento instalado?
Como, o ser, potencialmente destruído, pode reagir à vida que lhe ofendeu, insultou, esbofeteou, dilacerou, violentou, roubou sua inocência em sucessivas etapas do desenvolvimento e do crescimento físico, emocional, moral e espiritual?
Penso que,
A primeira reação é o perdão.
Perdão não é algo simples. Também não considero que seja algo humano, mas divino. Somente Deus pode nos capacitar a liberar da culpa, do julgamento e da condenação aqueles que nos feriram.
O perdão é também, uma perda grande. Precisamos perder para perdoar. Precisamos perder muito. Perder nosso orgulho, nosso desejo por vingança ou simplesmente por justiça. Perder nosso medo de sermos feridos novamente, nossa amargura, nosso papel passivo da vítima frente ao mundo. Precisamos nos esvaziar de todos estes empecilhos e entregá-los com nossos algozes aos pés da cruz.
A segunda reação é a aceitação.
Fomos tão insultados, tão ofendidos, tão magoados, tão rejeitados, que, possivelmente agora seja este o tratamento que damos a nós mesmos. Aprendemos a amar e aprendemos também a rejeitar... pasmem, a nós mesmos!
No entanto, Cristo nos desafia ao amor próprio, à valorização de quem somos em todos os aspectos e atributos físicos, intelectuais, e pessoais. `Ama ao próximo como a ti mesmo´ já diz o mandamento. Não ambicione ser outra pessoa, seja ela real ou virtual. Seja você mesmo! Faça as pazes consigo. 
A terceira reação está na colocação de limites.
Limites que demonstrem e validem quem somos. Não somos o insulto, o perjúrio. Somos quem Deus criou para sermos!
E se continuamos permitindo, de algum modo, ataques à nossa personalidade, seja pelas vozes que ainda ecoam em nossa mente, seja pela ação de antigos ou novos opressores, precisamos de coragem para apresentarmos e validarmos quem de fato somos diante deles.
Jesus nos convoca a respondermos sim sim, mas também não, não.
- NÃO! Não sou esta ofensa! E não aceito nem concordo que me trate desse modo!
Creia, você não é mais a criança indefesa. Há coragem, força e maturidade dentro de si, para dizer o não e bancá-lo. Creia em Deus, e na autonomia que Ele te dotou para conhecer-se, demarcar e manter limites saudáveis. Lembre-se porém, que nem todos fazem parte da turba dos opressores. Não diga não para todos!
Concluindo,
Parafraseando Eclesiastes 4.12, cada uma destas reações representa uma dobra do cordão. O cordão é uma corda fina. Algo que pode rebentar com facilidade. Reagir ao sofrimento com o perdão será divino, mas é necessário avançar aceitando-se. Reagir ao sofrimento com o perdão e a aceitação será excelente, mas é preciso também estabelecer limites saudáveis nos relacionamentos.
Com estas três dobras operando, quase que simultaneamente, o rompimento do cordão, ou seja, de sua caminhada rumo à restauração, se dificultará e oscilará cada vez menos.
A restauração da identidade e da sexualidade, são processos muitas vezes longos e espinhosos. Para que haja resistência e esperança ao longo da jornada é preciso cultivar, com constância, a arte de perdoar, de aceitar-se e de estabelecer saudáveis limites nos relacionamentos.
Que o Senhor te abençoe e te capacite a cuidar do seu cordão!


Débora Fonseca
www.luznanoite.com.br
Coordenadora do Ministério Luz na Noite desde 2001

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